sábado, 31 de março de 2007

e o melhor português foi...

Caramba! Eu quero sair deste país. Depois de dez figuras históricas que incluíam o Fernando Pessoa e o Camões, ganhar um ditador, Salazar, é mesmo uma piada de português, só pode. Seria o mesmo que ganhar o Castelo Branco ou o Getúlio Vargas como melhor brasileiro (e se calhar, até ganharia).

A votação que levou à escolha de Oliveira Salazar tem mais a ver com o descrédito do presente do que com o crédito da História.


A votação que escolheu Salazar tem mais a ver com o descrédito do presente do que com o crédito da História, que o tempo ajudará a determinar.

A avaliação histórica implica sempre distância, sem a qual juízos sobre figuras e épocas ficam à mercê de preconceitos do momento. No caso de Salazar, não terá chegado ainda o tempo em que será possível analisar, serena e fielmente, o que de melhor e pior terá feito.

Mas neste caso, como em qualquer outro, é necessário o tempo histórico que ajuda a purificar a memória dos excessos: favoráveis ou contrários aos protagonistas em causa. Figuras como D. Afonso Henriques, D. João II, Infante D. Henrique, Vasco da Gama ou Camões essas sim, podem ser analisadas sob o ponto de vista histórico, avaliando-se o que delas pensa a geração actual de portugueses. Já nas escolhas de Aristides Sousa Mendes, Álvaro Cunhal ou Oliveira Salazar podem ler-se preconceitos, opções ideológicas, emoções fortes.

Quando se incluem personalidades ainda de tão fresca memória não se deve esperar outra coisa. Nesta votação, há mais política do que História. O mais relevante acaba por ser o simbolismo do resultado.

Numa altura em que as sociedades (democráticas ou não) passam por acentuadas crises de valores, a escolha de Salazar parece mais um voto de protesto, um grito de alma, que vale a pena ponderar.

Não significa o desejo de regresso ao Portugal de Salazar, só possível num determinado contexto histórico. Mas há descontentamentos de muita ordem que geram cepticismo.

A credibilidade dos agentes políticos, por exemplo, é frequentemente posta em causa e nem sempre justamente. Mas tudo isso ajuda a alimentar uma sensação de falência do presente, aumentando, nalguns sectores, a aspiração à emergência de líderes fortes que ponham cobro a erros e a desvios.

Não acredito em homens iluminados. Mas é indiscutível que na Europa, em geral, há hoje em dia uma crise de lideranças. Muitos líderes europeus que ajudaram a dar forma à Europa não encontram sucessores à altura.

Por cá, vale a pena anotar que os políticos de maior sucesso foram aqueles que deram de si próprios uma imagem de autoridade. Sá Carneiro, embora em coligação, foi o primeiro a obter maioria absoluta para governar; Cavaco Silva conseguiu-a duas vezes apenas com o PSD; Sócrates foi o primeiro socialista a fazê-lo, também sem coligações.

São três políticos com uma imagem de liderança forte, cada qual a seu modo. Mário Soares, António Guterres ou Durão Barroso, políticos que não fazem da autoridade a sua imagem de marca, nunca atingiram a maioria absoluta. A autoridade não será uma receita infalível, mas é um aspecto que o eleitorado aprecia.
José Luís Ramos Pinheiro


Fonte: Correio da Manhã

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