e a potência brasileira nasceu...
"Naquela manhã quente, seu Barroso levantou cedinho. Próspero comerciante carioca, ele tinha de ir até o Valongo, na zona portuária, examinar mercadorias recém-chegadas.
Mandou um escravo enrolar as esteiras onde havia dormido, enquanto outro colocava uma tábua em cima de dois cavaletes e trazia as gamelas com o almoço. Entre um bocejo e outro, Barroso mergulhava os dedos na papa de farinha e feijão-preto. Terminou de comer, limpou as mãos na roupa de algodão e, antes de ir para a rua, deu uma chinelada na ratazana que tentava invadir sua casa.
O comerciante precisou aplicar um golpe de bengala para atravessar a esquina - um bando de urubus estava distraído demais para lhe dar passagem, banqueteando-se com um cachorro morto na véspera. Numa rua estreita, Barroso passou por seu barbeiro, o mulato Sebastião, e se deteve um instante.
Suas hemorróidas estavam de matar. Seria o caso de pedir ao velho homem uma rápida aplicação de sanguessugas? Talvez uma outra hora. Mais alguns minutos e Barroso finalmente chegou ao Valongo, onde trocou uma bela quantidade de carne-seca e couro curtido por alguns negros trazidos da África"*.
A cena fictícia acima descrita retrata muito bem o que era capital do Brasil no início do século XIX. Nada mais que uma cidade tosca onde nada havia. Mais graças ao baixinho do Napoleão Bonaparte, tudo mudou para o Brasil, já que este homenzinho resolveu acabar com o sossego dos português. Isso provocou a já ultra-mega-mencionada fuga do princíupe regente Dom João - que este ano faz dois centenários - e de todo o aparato estatal português para cá, entre o fim de 1807 e o começo de 1808, que deu os primeiros passos para acabar com esse marasmo e acabaria por colocar a colônia, sem querer, no caminho da independência. Mas esta é uma outra história.
* As Aventuras da História
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