a crise e o rato
Na linguagem popular diz-se, "azar de uns, sorte de poucos". Nada parece mais claro para definir a vida em tempos de crise. Eu que sempre fui poupadinha, não tive sorte, mas não tive azar.
Portando, se antes eu só almoçava fora durante a semana uma vez, se muito, continuo a fazer o mesmo. Todos os dias levo a minha comidinha que sobrou, fria, feita em casa para o trabalho e será requentada lá e comida lá. Nada mudou para mim neste aspecto. Porém, entre minhas colegas venho notando uma grande afluência, reparada na maior espera diante do microondas. Se antes comiam fora, agora a cozinha requentada virou amiga diária de umas quantas.
Pois bem, azar delas, sorte dos ratos que até então não sobreviviam naquela cozinha. Como a limpeza não melhorou apesar do grande uso, cada vez os ratinhos aparecem mais, e mais gordos. E ninguém, para variar, tomou alguma providência.
Dia destes, quando fui buscar meu saco de papel onde guardo a "marmita" antes de ir embora, dou com o som do bicho enquanto eu passeava às escuras. "Oh, que nojo!" Ainda mais que o senti passeando por outras sacolas. Saí a correr, entrei no carro e caminhei apenas com a sensação ruim de ter estado no mesmo sítio que aquele bicho asqueroso.
Quando dou por mim, já a dirigir, depois de entrado na estrada, o saco se mexe. "Ah!", um berro. "Eu trouxe o bicho comigo!". Só não parei o carro ali mesmo porque era proibido. Na próxima saída retirei-me da estrada, mesmo com o saco voltando a inércia. Procurava no silêncio, ouvir quietamente qualquer barulho do bicho, mas nada.
No primeiro lugar adequado saio do carro. Pela outra porta, tiro o saco e jogo-o longe, na tentativa, senão, matá-lo, pelo menos deixá-lo meio tonto. Nada sai do saco. Quietamente, abro a ponta e não vejo nada, além dos talheres e do "tupperware". Viro-o para chão. De lá, nada de bicho, mas meu telemóvel que, a qualquer chamada, vibrava.
Moral da história? Esta coisa de crise pode até ser sorte do rato, mas certamente deixa nós humanos um bocado paranóicos.
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