sexta-feira, 14 de setembro de 2007

uma vila encantada

monzaraz
Reguengos de Monsaraz fica ali, num cume perigosamente escondido pelas curvas que nos levam morro acima, perigosamente colocada num local de vista formidável. Neste cume isolado, Monsaraz viu passar povos pré-históricos, disputas medievais e mudanças nas águas da barragem do Alqueva.

Sobre o nome, não se sabe com certeza a origem. Há quem diz que o termo Monsaraz possa significar Monte Xerez ou Xaraz, isto é, um monte erguido no coração de uma terra nas margens de, antigamente povoada por um impenetrável brenhal de estevas (ou xaras) e com excelentes condições estratégicas para um povoado.

Apesar de ser uma região que viveu muitos anos sem água, era um ponto estratégico. Testemunhos da presença de povos pré-históricos surgem em inúmeros monumentos megalíticos, da mesma forma que a arqueologia documenta a ocupação romana, visigótica e árabe que a reconquista cristã empurrou para sul. Nesse período, Monsaraz passou pelas mãos dos Templários e depois da Ordem de Cristo, que a recuperou no tempo de D. Afonso III, embora as muralhas que continuam a isolar o casario remontem aos tempos de D. Dinis.

Quer se deva à fraca densidade populacional da região, quer a felizes acasos do destino, esta vila está em bom estado de conservação e um passeio, ainda mais com o fraco movimento de inverno (época em que visitei), nos embriaga. Descobrir Monsaraz e arredores é também descortinar um pouco da história da Península Ibérica e, consequentemente, de Portugal.

monzaraz a noite
O Castelo de Monsaraz, empoleirado no alto, surge no meio da planície, remetendo-nos para a Idade Média, mas o passado guerreiro há muito foi substituído por um refúgio de paz. Esta vila mergulhada no silêncio das suas ruas estreitas, de casas cobertas de seu branco imaculado parece parada no tempo.

Dali as mudadas águas do Rio Guadiana, a mais nova atração da região é a barragem de Alqueva, parece tão longínqua, como o próprio futuro. Sobra passear pelas suas ruas caladas, descansar numa terra parada no tempo e comer o que de melhor tem na região.

monsarazO que visitar: O Castelo de Monsaraz foi edificado em 1310 por D. Dinis, a partir de uma estrutura defensiva anterior. Foi apliado a seguir à proclamação de D. João IV, que mandou reconstruir as muralhas em meados do século XVII. Após a proclamação da independência face à coroa espanhola, em 1640, a dinastia de Bragança iniciou o seu domínio político e começaram as guerras da restauração com Castela. Nesta altura Monsaraz recebeu o novo sistema defensivo para possibilitar a prática de artilharia, com a implantação dos fortes ao estilo Vauban.

A Igreja Matriz de Santa Maria da Lagoa, contemporânea do repovoamento cristão da vila, foi sempre o templo mais importante da povoação, e a referência mais antiga que se lhe conhece data do tempo de D. Dinis. A construção actual data do século XVI. O elemento mais importante que a igreja guarda no seu interior é, no entanto, o túmulo de Gomes Martins Silvestre, cavaleiro templário e povoador de Monsaraz.

Monsaraz insere-se na chamada de Rota Histórica dos Vinhos – que contempla ainda Évora, Redondo, Vila Viçosa, Borba, Estremoz e Reguengos – e os seus vinhos caracterizam-se por assentarem fundamentalmente em solos de origem granítica e em algumas manchas de xistos e rañas. Há sinalização direccionada em toda a extensão da Rota dos Vinhos do Alentejo, por isso é apenas acompanhá-la ou perguntar pelo caminho.

O que ver: Barragem do Alqueva e As noites estreladas do Alentejo.

Onde Ficar: Monte Alerta, em Monsaraz. Numa terra bonita, tem que se escolher um turismo a condizer. Seguindo várias placas, descobre-se o Monte Alerta. Depois, o difícil é querer sair dali. Mas a vista do castelo, logo a saída não dá margem a dúvidas, vais querer visitar a vila.

Onde comer: A gastronomia tradicional tem como base a carne de porco e o borrego. O pão, o azeite e as ervas aromáticas, são ingredientes fundamentais que dão corpo e sabor às sopas, migas, ensopados e açordas, enquanto os ovos, a gila, a amêndoa ou as nozes são aliadas únicas em manjares de tradição conventual. Entre os muros de Monsaraz, tem diversas opções.

Fontes: Rotas e Destinos
Fotos: Dulce Nascimento

Viagem em Janeiro/2006

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